quinta-feira, 3 de maio de 2007

Uma viagem a um passado ainda recente : crónica breve sobre uma experiência de VIDA.


Ontem voltei, tranquilamente, com o mesmo cartão, para o mesmo edifício, só o estacionamento automóvel mudou e, as pessoas,não todas!
O parque é muito concorrido, nomeadamente, por pessoas das empresas dos prédios contíguos,restaurantes,cafés,etc.
Eu sou um privilegiado, pois tenho "cartão"...mostro-o ao segurança ( uma mulher quase sempre) ao parar a marcha antes da cancela, e antes de ter tempo de dizer exactamente onde vou, ela dá-me passagem...e é obrigatório virar á direita.
Aí vou eu.
Esta sim, é uma rotina curiosa, pois é-o na sua essência, um regresso, um reencontro um revival,mas tenho que o dizer,felizmente, uma rotina boa, á qual me entrego periodicamente com inteira disponibilidade.
Chegado ao pavilhão, dirijo-me sempre ao balcão único, onde várias Senhoras de bata branca nos "aguardam", e de imediato me coloco arbitrariamente numa das filas ( ok, aceito, é melhor fila do que bicha, sempre,srsrsrsrsrsrsrssrr).
Desde que há algum tempo iniciei este processo, a percorrer estes percursos, que algo me intriga, ainda que talvez até saiba antecipadamente a resposta para este meu questionamento, e que é : se o balcão é no hall do edifício, e as filas são em perpendiculares bem definidas em relação ao mesmo, porque será que a maior parte das pessoas aborda o balcão de forma oblíqua?
Por mais de uma vez - e porque é frequente ser ultrapassado por estas pessoas ,srsrsrsrsrssrsr - , educadamente, tentei dialogar com uma ou outra que de cernelha se aproximavam, pé ante pé, aparecendo como que se por magia não raras vezes á frente do outro paciente que a precedia?
Apenas lhes perguntei, timidamente, porque não respeitavam a ordem de chegada?
E, claro, a resposta é sempre a mesma, ou "era só para tirar uma duvidazinha", ou então, fazem alarde da sua qualidade de doentes,idosos, logo...está-se compreender, não é...ainda para mais não sou de cá, dê lá um jeitinho!!!!
Sou paciente, muito paciente,srsrsrsrsrsrsrr.
Escusado será dizer que nunca - das vezes que a memória me ajuda - consegui ser atendido pela minha ordem de chegada!.
Mas, confesso, estes pequeníssimos, insignificantes "contratempos" de entendimento, não conseguem tirar-me ao meu estado de espírito tranquilo, previamente consciencializado, e trabalhado nesse sentido, que funciona agora quase" de uma forma automática, independente da minha vontade racional.
E, realmente, ontem voltei lá...e à saída vinha contente, satisfeito, descansado, consciente do "dever" cumprido, saindo pela mesma porta, só ( como sempre gosto de lá ir),mas sentindo-me sempre acompanhado por Deus, e por algumas pessoas que sei regozijam com os motivos do meu contentamento. Eu sei, eu sinto-o, seja esse apoio mais ou menos veiculado de forma visível.
Depois há ainda o Senhor que me recebe a quem ,sem ele saber, alcunhei de "mexidinho", pois está sempre em movimento, não para,mas assim mesmo, não só resolve tudo, como se lembra sempre das histórias clínicas dos visitantes como eu, razão pelo que tenho por essa personagem uma imensa admiração, confiança, e simpatia ( não me posso esquecer que lhe prometi um exemplar do catálogo da exposição "Cartier",srsrsrsr).
E estar bem é algo de inexplicavel na aparente simplicidade destas visitas de rotina, razão pelo que pela primeira vez me lembrei de sublinhar desta forma modesta e superficial esta minha mais recente visita.
Não se compadecem estas considerações com problemáticas existenciais, ou metafísicas, contudo, sempre presentes, e inerentes ao processo.
Encurtando razões, tudo o resto tem sido rápido, suficientemente atento e cuidado, e assim continuará atá o meu desejo prevalecer.
Serve esta para homenagear de forma muito sincera as pessoas que genuinamente acharam, e/ou continuam a achar que Valeu/Vale a pena conhecer-me como ser humano...preferencialmente,partilhando existências,emoções...presenças.
Se de entre estes, não se importarem que hoje como sempre destaque os meus Pais, ficar-vos-ia imensamente grato,pois para tudo na vida é preciso ATITUDE, mas conseguir atingi-la na altura certa , e no "espaço" escolhido para nos testar,acredito, também é uma questão de sorte...e dos apoios certos.
Espero continuar a ser digno de todo este caminho até hoje precorrido ( não digam a ninguèm, mas tenho a certeza sei que serei, pois também tenho o meu lado de rocha ,que deve advir de ser neto de transmontanos).


Boa noite,e vou ousar, beijinhos. Fiquem bem.Até ao próximo texto.


museologopensante

2 comentários:

UmOlhardeMulher disse...

As experiências vividas são sempre únicas e intransferíveis. Considero que a riqueza está em conseguirmos transportá-las, com a máxima lucidez possível para as nossas vivências diárias,adicioná-las conscientemente à nossa bagagem, pq boas ou más, serão sempre nossas, aquisições, que voluntárias ou não, farão para sempre parte deste amálgama que somos nós, seres humanos.
No outro dia escrevi que, ao lermos uma crônica, ou, quaisquer relatos de situações, fictícias ou não, automaticamente nos remetemos às nossas próprias, principalmente quando há qualquer tipo de identificação.
Ao ler este texto, minha primeira reação é esta mesma, de imediato, mergulho no que experimentei, não enquanto paciente, mas, expectadora e acompanhante da, sem dúvida nenhuma, experiência mais intensa, mais demandora, que terá envolvido e exigido mais do que alguma vez imaginei ser capaz, mas, que me fez crescer como ser humano e aprender, que a vitória estará sempre no caminho percorrido, jamais no objectivo alcançado, que vencedores são todos que passam por esta porta, que ouvem um diagnóstico que pode mudar para sempre o rumo de suas vidas, mas, que continuam olhando para frente, de mãos dadas com a esperança. Este meu comentário, será sim, um tributo a todas estas pessoas, que dia após dia, ensinaram-me a lição mais importante de minha vida, pois ninguém escolhe, ninguém quer, ninguém merece...mas que pode acontecer com qualquer um.
MA

UmOlhardeMulher disse...

Errata

No comentário acima, onde se lê "demandora", por favor, leia-se "demandadora". Obrigada.