sexta-feira, 30 de julho de 2010

Lá fora está frio!

Restelo, 27 de Dezembro de 2008



Gui, Rafa e Maria Angélica


Lá fora está frio, deduzo, chove feio, sente-se o interior desconforto de algo que nos incomoda.

Ontem, depois de andar de casa em casa, estando (como sempre) onde me entendo por mais útil, cheguei finalmente ao meu cantinho. Ainda liguei o computador – o MAC -, com quem venho estreitando novo e mais próximo relacionamento, e esperei uns minutos para que os pensamentos fluíssem qual download de um software free, como se de um desejável update se tratasse?!

Mas o assunto não era, tão pouco é, informática, pois disso sei pouco, e não é problemática que preencha as minhas reflexões diárias,de todo.

A “coisa” passa muito mais por sentimentos vivenciados em contacto real, por solidárias emoções, por uma vontade genuína de estar perto, sabendo contudo qual o lugar de cada um , e de cada qual, o que é ou não esperado.

É realmente uma postura de intrínseca e verdadeira natureza altruísta (“ Diligência em que se procura o bem estar dos outros à custa do próprio, de forma desinteressada...”), numa dimensão pequena e restrita que é a minha, enquanto ser ainda bastamente imperfeito aos olhos de Deus, dizia, que me leva à impressão deste conjunto mais ou menos homogêneo de caracteres.

Neste contexto, senti ainda necessidade à priori de confirmar, ainda, o significado de compaixão antes de redigir estas breves palavras que tentam postar um conjunto de pensamentos e sensações.

De facto, diz-se dela ser : “Uma compreensão do estado emocional de outrem, com o desejo primeiro de aliviar ou minorar o seu sofrimento , e que se caracteriza essencialmente por acções.”.

Mas, apesar destes parágrafos inicias terem sido vencidos, a folha de word continua em branco, no sentido descendente, e eu ainda pouco ou mesmo nada escrevi, nomeadamente, sobre o que me motivou na minha por vezes inquieta, mas assertiva consciência!.

Vamos lá....

Hoje é dia de lembrança, não um qualquer dia, seguramente O, com letra maiúscula.

A perda, ainda demasiado recente ( na minha modestíssima e respeitosa opinião) foi seguramente para muitos, mas confesso que neste momento em que penso só me ocorrem os três, filhos e Mulher, Mulher e filhos.

Circunscrevo assim o universo sujeito desta minha missiva, primeiro por gostar apenas de falar , escrever, ou pronunciar-me sobre algo que o conhecimento próximo alimentou a minha emocional forma de observação, mas também por algum irreverente espírito critico que quem me conhece sinto em relação a “outras” pessoas.
São as minhas balizas, provavelmente a necessitar de aferição e calibragem, mas não me quero perder por agora por esses caminhos algo ínvios.

Como durante este meu percurso de vida experimentei já o funcionamento das “associações livres”, sinto por vezes, nomeadamente, ao escrever que essa circunstância que é já inerente à minha forma de pensar, não se traduza na escrita com a clareza e simplicidade que seria desejável.

Com um de vós venho confirmando em termos de consciencialização, a definitiva importância do desenvolvimento saudável da capacidade de comunicar, em momentos e circunstâncias de teor e dificuldades dispares, razão em contrario,acreditem, os conteúdos reprimidos encontrarão poros para transbordar em “acnes” mais ou menos intensos e indebeláveis.

Quero querer que me reconhecem a capacidade de dádiva empática, que no caso da situação que me traz aqui hoje, se constitui num exercício dos mais complexos e intensos.

Claro que apenas consigo penetrar à superfície no vosso sentir, e por essa razão, diria, solidarizar-me “à distancia” com aquilo que imagino ser a dor dessa irreparável falta.

Desculpem-me pela minha ainda demasiada forma terrena e hiper-realista de falar, que denota, claramente, a necessidade de percorrer um longo caminho na minha espiritualidade, mas quero querer que também comigo foi a doença que me fez, parcialmente, como penso!

Atrás – se se recordam, referi-me à lembrança, como se houvesse apenas e só um dia para exercitar mais esse lóbulo cerebral.

Culturalmente fizeram-nos assim, com marcos e datas precisas, determinações essas com as quais jamais me reconheci.

Sei por isso que vossa lembrança é diária, até porque – e esta já foi uma aprendizagem aturada que pude extrair do convívio convosco -, o Ricardo vive efectivamente dentro de vós, está omnipresente nos vossos dias, a ponto de eu próprio o ter já podido constatar, sentido, essa presença forte e determinante.

Não sei se vocês, Guilherme e Rafael, sabem ou alguma vez souberam que desde a primeira vez que eu e vossa Mãe , Maria Angélica, fomos a Fátima, a “acompanhei” ao local preciso onde fisicamente depositaram um dia as cinzas de vosso Pai Ricardo.

Sendo eu já na altura, “oficialmente”, namorado da vossa Mãe, senti nesse dia sensações e emoções que trabalhei da maneira que me foi mais acessível, mas o registo ficou.

Depois dessa, muitas outras vezes se sucederam, e em silêncio lá ficamos, vossa Mãe e eu sentados uns minutos naquele muro circular, debaixo de tão significante “árvore”.

Falo neste episódio, não, obviamente por algo que interesse sobre a minha pessoa, mas para tentar não calar mais a importância da vossa Mãe neste momento preciso das nossas, vossas passagens.

(pequena paragem para pensar um pouco...)

O projecto de vida de vossa Mãe, como sabeis há muito, são vocês, o vosso bem estar, o vosso futuro, O PRESENTE.

Sem ousar menosprezar a vossa capacidade de entendimento, mas ao mesmo tempo sublinhando a vossa ainda “relativa “ idade, ficarei imensamente feliz quando - se ainda não aconteceu-, tiverem a oportunidade de apreender a riqueza interior que emana, igualmente, de um coração despedaçado, e quantos outros revezes passados teve já que enfrentar (entre outras, a deficiente, incompleta e, diria mesmo, incompreensível pouca solidariedade dos restantes familiares).

Hoje é dia de Aniversário do Ricardo, vosso Pai, seu Marido.

Bem Haja Ricardo por continuar sempre tão presente , cada dia mais próximo, na vida de seus filhos e sua Mulher.

Que hoje e sempre eles possam sorrir com essa benção,pois a vida avança, e dará novos e bons passos, mas vossa coesão será sempre razão e âncora de vossas existências, pois vossa família é una no sentimento que é eterno e simultaneamente presente.

Que a dignidade e amor de vossa família possa um dia ser replicada n’outros que provavelmente jamais irão ter a oportunidade de viver tantos e tão estruturantes momentos de felicidade como vós os quatro.

Um abraço grande e sentido, RF

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